Fechamento para balanço 2008
Então vamos lá, em ordem decrescente:
10) TV On The Radio – “Dear Science”
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Que o TV On The Radio é uma banda brilhante, das melhores da atualidade, não é novidade para ninguém.
Há dois anos, o álbum “Return To Cookie Mountain” foi o melhor álbum do ano, simplesmente moendo a concorrência. Era daqueles álbuns que você fica até triste quando ouve, pois sabe que dificilmente surgirá algo igual por um bom tempo.
Isso, no caso deles, talvez tenha sido um problema.
Eu sabia que não tinha como esse novo álbum ser ruim. Óbvio que, se eles chegassem e gravassem um monte de merda, ainda assim seria uma merda boa, porque não tem como sair coisa ruim desses novaiorquinos.
No entanto, as comparações com o álbum anterior são absolutamente inevitáveis e é inegável que eles deixaram a peteca cair um pouquinho, por isso eles ficam somente com o décimo lugar.
Óbvio que o álbum é melhor do que 99% do que as demais bandas estão fazendo por aí, mas, em se tratando de TV On The Radio, isso serve apenas consolo quando eles não conseguem repetir o brilhantismo de um álbum anterior.
O som desses caras é simplesmente impossível de descrever. Acho que o mais perto que se pode chegar seria um black/gospel/eletrônico.
E, nesse álbum, eles mergulham ainda mais no black e até em algumas coisas trash (pelo menos eu acho, sei que tem gente que adora) dos anos 80.
Só pela “pancadaria suave” de “Halfway Home”, “Shot Me Out” e “DLZ”, já não teria como esse álbum não figurar entre os melhores do ano. Mas ainda tem a “davidbowiece” de “Crying”, o groove de “Dancing Chooes” e “”Red Dress” e até o pop de “Golden Age”.
Seria brilhante se fosse de qualquer outra banda. Em se tratando do TV On The Radio, o melhor que consigo utilizar é “correto”.
9) Vivian Girls – “Vivian Girls”
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Como é bom de vez em quando aparecerem bandas como as Vivian Girls para a gente lembrar que criatividade e virtuosidade nem sempre andam de mãos dadas...
Que elas me desculpem, mas não tem como eu não me utilizar do adjetivo “tosco” para definir o som delas – no bom sentido, é claro!
“Tosco” a la Ramones, “tosco” a la Beat Happening, “tosco” a la The Shaggs, ou seja, “tosco” como tudo aquilo que a gente sempre adorou na vida!
“Tosco” no sentido de simples, de certeiro, de fácil, de preciso. De pensarmos “como não pensamos nisso antes, se era tão óbvio?”.
Lembro que a primeira ou a segunda vez que eu ouvi falar nelas, vi uma foto delas com o Thurston Moore. Pô, pensei, quem recebe a benção de um dos deuses da música não tem como dar errado...
“Tell The World” é, sem dúvida, uma das músicas do ano. Simplesmente sensacional. De ter vontade de voltar àquela época em que a gente descobriu os Cramps e ficava em casa, no quarto, trancado, ouvindo sem parar... É punk, é diversão e é tão simples... Menos é mais...
E o pop perfeito de “Where Do You Run To”? E a simplicidade de “Damaged”?
Se a fórmula não fosse um pouco repetitiva, elas com certeza estariam bem acima disso no ranking dos melhores. Mas uma nona posição em um ano como esse não é de se jogar fora, é?
8) Department Of Eagles – “In Ear Park”
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Mudando completamente de rota (sem, contudo, sair de Nova Iorque – apenas atravessando a Ponte do Brooklin – aliás, agora que eu percebi que as três primeiras bandas são de lá...), o Department Of Eagles aposta nas melodias... E que melodias!
O álbum chega a ser difícil no começo. As músicas são bastante diferentes entre si e o ouvinte chega a ficar perdido nas mudanças de direção.
Começa quase folk com a faixa título, pula para um som Motown com “No One Does It Like You”, chega na balada arrasa-quarteirão “Phantom Other” e o duro é continuar daí.
“Phantom Other” provavelmente é a música do ano. Fiquei mais de um mês sem conseguir passar à quarta faixa... Chegava nela e eu ficava voltando para ouvi-la novamente... Que música!
Mas, após muito tempo, quando se consegue passar dela, ainda se tem diversas surpresas agradáveis: da “música infantil” “Teenagers”, à balada que faria companhia à segunda faixa como melhores do álbum “Around The Bay”, ao semi-experimentalismo de “Classical Records”, à cadência “thebandiana” de “Waves Of Rye”, à rápida e certeira “Therapy Car Noise”.
Um álbum complexo, a ser degustado aos poucos. E, no final, é inevitável arrepender-se por não ter se apaixonado à primeira vista.
7) MGTM – “Oracular Spetacular”
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Tá, eu sei que você já está torcendo o nariz (né, Ênio?). MGMT na frente de TV On The Radio??? Que porra é essa???
Simples, eu adorei de cara o psicodelismo “flaminglipstico” dos caras...
Vão querer tirar o brilho desse álbum só porque ele é “farofa”, o Lúcio Ribeiro gosta e os caras são mais moleques que você???
No fim das contas, o que a gente quer é abrir um sorriso no final de uma música e ter vontade de voltá-la do começo, não? Então... Aqui, é duro separar as canções que não são de se sorrir...
Ta certo que o clima ripongo é um pouco previsível e apelativo, mas a seqüência “Time To Pretend”/“Weekend Wars”/“The Youth”/“Electric Feel”/“Kids” é de tirar o fôlego… “Hit” atrás de “hit”.
E ainda tem “Pieces Of What”, “Of Moons, Birds & Monsters” e “The Handshake”…
Ao contrário do Department Of Eagles, é um álbum fácil do começo ao fim. Muito provavelmente este foi o álbum que eu mais ouvi este ano.
O que não dá para entender é como eles conseguem fazer um show tão meia-boca com um repertório brilhante desses...
6) Of Montreal – “Skeletal Lamping”
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Esse álbum, aqui, na sexta posição, talvez seja um “mea culpa” por ter colocado o delicioso álbum anterior, “Hissing Fauna, Are You The Destroyer?”somente na sexta posição no ano passado. Logo em seguida de ter feito a lista, eu viciei naquele álbum de uma forma que me fez me arrepender de não tê-lo colocado na primeira ou na segunda posição (afinal, os Battles também fizeram bonito com o “Mirrored”). Tanto que hoje provavelmente minha banda predileta seja exatamente o Of Montreal.
Neste caso, é inegável que a peteca caiu um pouco. Não é todo ano que uma banda consegue fazer um clássico como o do ano passado, a gente entende.
Mas a fórmula é inegavelmente brilhante. Costumo descrevê-los como um “Sgt. Peppers com elementos eletrônicos”. Mas já ouvi quem colocasse até mesmo ABBA na fórmula. Tudo isso no melhor sentido que se possa extrair.
A exemplo do Department Of Eagles e ao contrário do “Hissing Fauna, Are You The Destroyer?” (que eu julgava ser ultra-mega-blaster-pop), o álbum deste ano é bastante difícil no começo.
São quinze faixas, com várias mudanças radicais de ritmo em cada uma delas, o que faz parecer serem 100 faixas. Com isso, o disco só se torna “assobiável” lá pela décima audição. Mas aí a coisa fica assobiável MESMO, como tudo o que esses caras fazem.
Se no álbum do ano passado a gente tinha o pop perfeito de “Heimdalsgate Like A Promethean Curse”, “A Sentence Of Sorts In Kongsvinger” e “Bunny Ain't No Kind Of Rider”, a ultra-dançante-obrigatória-em-pistas “Gronlandic Edit” e a música que o Franz Ferdinand não escreveu “She's A Rejector”, neste álbum temos a quebradeira “Nonpareil Of Favor”, o delicioso dance pop de “For Our Elegant Caste” e “Mingusings”, a embasbacante “An Eluardian Instance” (o refrão mais grudento do ano – “Do you remeeeeeeeeember?”), a apoteótica “Triphallus, To Punctuate!”, a mezzo rollingstoneana, mezzo electropop “And I've Seen A Bloody Shadow”, além do “hit alternativo” “Id Engager”.
Repetindo o que eu falei no ano passado: mais um álbum para sair dançando ridículo no carro... Com um sorriso enorme na boca, que é o que essa banda tem as manhas de fazer com qualquer um que carregue um coração no peito.
5) Los Campesinos! – “Hold On Now, Youngster...” e “We Are Beautiful, We Are Doomed”
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Sim, é isso mesmo, são dois álbuns da mesma banda em quinto lugar!
Acho que a última vez que eu tinha visto um impulso criativo em um espaço tão curto de tempo tinha sido com o Creedence Clearwater Revival, que, em dois anos e meio lançou cinco álbuns perfeitos na virada da década de sessenta para a década de setenta.
Sei que você não vai acreditar, mas a primeira vez que eu ouvi Los Campesinos! Eu lembrei da fase boa do Pullovers, especialmente do “Riding Lessons”. Antes de eles começarem com essa palhaçada de negar as origens, começar a cantar em português e renegar as músicas antigas (alguém aí também lembrou dos Maybees/Ludov?), fui absolutamente viciado neste álbum. Guitar rock com vocal dividido entre um homem e uma mulher.
No caso do Los Campesinos!, além dessa fórmula, há um apelo pop, no bom sentido, que faz com que eles também sejam viciantes. Não tem como não gostar dessa banda.
O primeiro álbum é uma sucessão de hits perfeitos “Death To Los Campesinos!”, “Broken Heartbeats Sound Like Breakbeats”, “Don’t Tell Me To Do The Math(S)”, “My Year In Lists” (esta, um semi-hit indie ultra grudento com letra “altafidelidadeana”) e “This Is How You Spell "Hahaha, We Destroyed The Hopes And Dreams Of A Generation Of Faux-Romantics"” correm o risco de grudar na sua cabeça por semanas...
Mas a coisa fica realmente interessante na faixa “You! Me! Dancing!”. Sabe aquelas músicas que dão vontade de chorar quando acabam? Que poderiam durar semanas em vez daqueles seis minutos e meio? É isso que acontece aqui... Tem uma introdução em crescendo, guitarras que grunhem lindamente, letra maravilhosa que (ao menos a mim) faz servir a carapuça (“If there's one thing that I could never confess/It's that I can't dance a single step”). Essa música é a prova de que o tempo é relativo. Seus seis minutos parecem passar em dez segundos.
E, quando a gente achava que eles já haviam nos dado tudo o que queríamos para este ano, eles vêm com um segundo álbum que não deixa a peteca cair. A faixa título, “You'll Need Those Fingers For Crossing”, “The End Of The Asterisk” e “Documented Minor Emotional Breakdown # 1” entrariam fácil entre as melhores do primeiro – afinal, por que não repetir uma fórmula que dá tão certo?
... E assim, temos uma nova banda favorita.
4) Born Ruffians – “Red, Yellow And Blue”
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O engraçado do Born Ruffians é que eu já ouvi todas as comparações possíveis e imagináveis com a banda. A que mais me chamou a atenção, de tanto que parece, ao menos em um primeiro momento, não ter nada a ver é com o Árcade Fire...
Isso só prova o quão inclassificável é essa banda. Não por ser “inovadora” ou algo do gênero. Muito pelo contrário. O som é até que bastante “óbvio”. “Obviamente bom”.
Começa blues com a faixa título e aí vem a segunda faixa, “Barnacle Goose”, com as boas esquisitices – o baterista parece um demente tocando (tal qual em “In A Mirror” e “Kurt Vonnegut”, adiante), acompanhando as quebradas da guitarra – quebradas repetidas mais adiante em “Foxes Mate For Life”.
Mas também tem pop perfeito – “Hummingbird” (com uma linha de baixo, se ainda não te pegou, ainda vai te pegar), “I Need A Life” (que faria com que eu apostasse todas as fichas como hit – que faz com que esta seja a banda que eu gostaria de ter lançado pelo meu selo esse ano, se eu tivesse um – como o foi com o Of Montreal no ano passado – imaginem um “cast” com essas duas bandas? Eu estaria bem, para falar o mínimo) e “Little Garçon” (com a letra mais grudenta do álbum).
E tem “animalcolletivadas” como em “Badonkadonkey” e “Hedonistic Me”.
Acho que esse é o disco mais perfeito de 2008 no quesito “não tem nenhuma música ruim”. Só não fica em primeiro desta lista porque a concorrência fica feia daqui para diante.
Espero que se confirmem os rumores e eles venham no ano que vem para o Brasil – o que é melhor, provavelmente com o Of Montreal. Com isso, já sabemos quais vão ser os melhores shows de 2009 por antecipação (juntamente com o Radiohead, com o Sonic Youth e com o Wilco, obviamente, se estes dois últimos vierem).
3) Vampire Weekend – “Vampire Weekend”
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Estes estudantes de Nova Iorque que se juntaram na faculdade para formar uma banda de nome esquisito tiveram a manha de trazer de volta uma mistura inusitada de indie rock com música africana que estava adormecida há tempos.
A fórmula está longe de ser original. Paul Simon já havia feito isso lá na década de 80. Mas, na época, a mistura da música afro era com o “pop rock” feito na época e não com o indie rock de que tanto gostamos hoje.
O resultado, neste caso, é um álbum deliciosamente pop, talvez o melhor álbum pop do ano.
De “Mansard Roof” a “The Kids Don't Stand A Chance” são 11 músicas com total potencial para ser singles.
Os destaques ficam por conta do hit afro-rockabilly “A-Punk”, a valsa afro-punk “M79” e a “adolescente” “Campus”, uma das melhores músicas do ano e provavelmente a que eu mais escutei.
Talvez eu só não o tenha eleito o disco do ano porque tem alguns deslizes (acho o reggae “One (Blake's Got A New Face)” bem chatinho) e porque, na era internet, um álbum lançado no longínquo mês de fevereiro parece ter sido lançado na idade da pedra, motivo pelo qual ele tenha sido deixado de lado em detrimento dos dois primeiros nesta reta final. Fazendo essa confissão, espero que eu fique com menos peso na consciência por tê-lo destituído do título.
Mas ele vale cada segundo de audição, sem sombra de dúvidas (o que eu sei que é dispensável dizer, pois, este, eu, você e todo o mundo já estamos cansados de ouvir).
2) Bon Iver – “For Emma, Forever Go”
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Se o Born Ruffians é o melhor no quesito “não tem nenhuma música ruim” e o Vampire Weekend fez o melhor álbum pop, o Bon Iver é sem dúvidas o melhor no quesito “beleza triste” e no quesito “rápido e certeiro”.
Esse álbum é lindo, lindo, lindo. Mas e triste, triste, triste. Se você tem coração fraco, mantenha distância. A probabilidade de ter de segurar as lágrimas para não passar vergonha em muitos e muitos de seus pontos é muito grande.
E o tempo aqui, novamente, parece ser relativo. Ta certo que o álbum é curto, mesmo. Mas parece que ele começa e já acaba, o que vai fazer com que você o volte novamente ao começo por diversas vezes.
É um disco, em suma, que vai fazer com que você se pegue por diversas vezes “pregando” para os seus amigos, como se fosse uma missão fazer com que mais e mais gente o ouça.
Reza a lenda que ele foi inteiro gravado após o artista por detrás da banda – Justin Vernom – isolar-se do mundo em uma cabana de seu pai em Wisconsin durante o inverno – e só sair de lá com o álbum composto e gravado – chegam ao absurdo de afirmar que nem comida ele levou e que teria que caçar para sobreviver.
O que saiu dessas sessões foram pequenas pepitas em grande parte acústicas e líricas como “Flume”, dolorida até os ossos, com um falso final maravilhoso, “Skinny Love”, provavelmente a música que você vai viciar em primeiro lugar, “Blindsided” e seu refrão maravilhoso, o country rock “neilyouguianofaseHarvest” “For Emma” (talvez a “menos acústica” do álbum) ”“Re: Stacks” e seu andamento lento delicioso, com um refrão quase samba-bossa.
Mas o ápice do álbum, para mim, é a dobradinha “Creature Fear”/”Team”. As duas músicas, que parecem uma só, evoluem, primeiramente, do nada para o refrão apoteótico absurdamente sofrido, que só quem fala com o coração conseguiria fazer algo assim. Depois, já na segunda delas, fica numa linha de baixo estupenda, bateria descadenciada, devaneios jazzísticos na guitarra e assovios calmantes.
Fazia tempo não surgia um álbum de um artista/compositor que empolgasse tanto... Neil Young e Van Morrison devem estar muito orgulhosos...
1) Deerhunter – “Microcastle/Weird Era Cont.”
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As guitarras choradas da introdução do disco prenunciam o que vem pela frente: um disco que reúne as melhores influências musicais desde o Wilco e o Yo La Tengo.
É guitar, é shoegazer, é garage, é blues, é country, é krautrock, é post rock, é tudo o que há de melhor. Sempre com muito barulho e muitos lamúrios.
“Agoraphobia”, guitar, continua chorando e implorando pela vinda, pelo conforto, pelo abraço. “Never Come” é uma mistura inusitada de Jesus And Mary Chain com a linha de baixo de “Every Breath You Take” do Police. Em “Little Kids” os BPM baixam vertiginosamente e o choro fica mais evidente. “Microcastle” começa mantendo a lentidão e, em seguida, te joga novamente no barulho.
Entre alternâncias entre choros e guitarradas, o ápice do álbum acontece com a dobradinha “Nothing Ever Happened” e “Saved By The Old Times”. A primeira, um krautrock sensacional, vibrante, viciante. A segunda, quase country, com riff e refrão grudentos.
E o final do álbum propriamente dito é lindo, com a climática “Twilight At Carbon Lake”.
Mas, como bônus, ainda sobra todo o “Weird Era Cont.”, mais experimental e cru, mas igualmente delicioso...
Ninguém nos deu tanto esse ano.
O Los Campesinos!, como falado, até nos deram bastante em quantidade, mas, você sabe, a gente quer mesmo é barulho, não? E no Deerhunter a coisa é mais barulhenta, mais underground, mais agressiva, mais depressiva, enfim, mais arredia...
Sei que pode soar contraditório, mas é disso que a gente gosta, não?
Cassius Matheus Devazzio, mais uma vez é convidado especial para escrever o fechamento de balanço do ano para o over-tunes e é o cara que me levou para o primeiro show de róque da minha vida.