BALANÇO DE 2009
2009 sem sombra de dúvidas fechou com chave de ouro os anos 00. Foi um ano borbulhante no cenário musical mundial. Grandes bandas surgiram e bandas já idolatradas lançaram discos fodaços. Se estes discos se tornarão “clássicos” só o tempo dirá. Dada a proximidade do lançamento e o “vício” recente em vários deles, qualquer tipo de análise nesse sentido seria distorcido.
Quais desses discos teriam peito para constar numa lista de melhores da década ao lado do “Kid A”, do Radiohead, do “Yankee Hotel Foxtrot”, do Wilco, do “Songs For The Deaf”, do Queens Of The Stone Age, do “... And Then Nothing Turned Itself Inside-Out”, do Yo La Tengo, do “Funeral”, do Arcade Fire, do “Return To Cookie Mountain”, do TV On The Radio, do “Come On Feel The Illinoise”, do Sufjan Stevens, do “Hissing Fauna, Are You The Destroyer?”, do Of Montreal, do “Clap Your Hands Say Yeah!”, do Clap Your Hands Say Yeah!, do “Up The Bracket”, do Libertines? Eu mal consigo fazer isso com os albuns de 2007 e 2008…
Não consegui reduzir a lista a dez. Terá que ser o top 11, isso porque eu já encaixei o Deerhunter junto com o Atlas Sound e coloquei o álbum e o EP do Animal Collective juntos, ocupando uma só posição. E isso porque eu deixei álbuns que me deixaram de coração partido, como é o caso do Japandroids, do Beirut, do Peter, Bjorn And John, do The Dodos, do Dan Deacon...
Então vamos lá, em ordem decrescente:
11) Why? – “Eskimo Snow”
No ano passado, descobri o “Alopecia” tardiamente, o que fez com que ele não entrasse no top 10. Mancada.
Mas este ano o Why? lançou um álbum novo que, ainda que não supere seu predecessor, cabe com folga na lista de melhores do ano.
Rap com predominância de piano sempre me pareceu estranho, mas eles se superam. A seqüência das três primeiras músicas, “These Hands”, “January Twenty Somehing” e “Against Me” é de tirar o fôlego e ainda é só o começo. “Into The Shadows Of My Embrace” e “Eskimo Snow” são outros dois destaques.
Mas o melhor momento é o primeiro single, “This Blackest Purse”. Tanto que eu demorei para conseguir ouvir o resto do álbum. Que bom que depois eu pude ver o tempo que eu estava perdendo em não apreciá-lo por inteiro.
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10) Wilco – “Wilco (The Album)”
Pois é, eles conseguiram de novo.
Depois de lançar dois dos melhores álbuns de todos os tempos, “Being There” e “Yankee Hotel Foxtrot” e outros dois excelentes, “Summerteeth” e “A Ghost Is Born”, finalmente eles voltaram à melhor forma depois do irregular “Sky Blue Sky”.
Desde o rockão “Wilco (The Song)”, passando pelo kraut “Bull Black Nova” (que remete à espetacular “Spiders”, do “A Ghost Is Born”), pela teenagefanclubiana/harrisoniana “You Never Know”, até a ensolarada “Sunny Feeling”, eles conseguem fazer até a alma mais gélida abrir um grande sorriso.
Que bom poder contar com bandas que até na maturidade conseguem empolgar, como é o Wilco, responsável por um dos melhores shows da minha vida, em outubro de 2005.
É torcer para que eles voltem para o Brasil.
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09) The Pains Of Being Pure At Heart – “The Pains Of Being Pure At Heart”
Ironicamente de Nova York – do Brooklin para ser mais específico – veio a novidade mais britânica do ano – guitarra quase onipresente, bateria minimal e vocal “atolado”.
Aqui é aquela velha história: quem precisa, no século XXI, de um tipo de música que teve seu auge entre os anos 80 e o início dos 90???
A resposta é óbvia: eu e a torcida do Flamengo.
Impossível passar incólume à delícia de “Young Adult Friction” ou não ter vontade de entrar dentro da televisão ao ver o clipe de “Everything With You”.
Sem dúvida o álbum que mais me fez feliz – nostalgicamente falando – neste ano.
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08) Yo La Tengo – “Popular Songs”
Ah, o Yo La Tengo... Será que algum dia eles farão um álbum ruim?
Neste, em especial, há vários elementos diferentes – como tem sido costume nestes tempos – que acabam se completando e formando um todo deliciosamente bom.
Tem a viagem de “Here To Fall” – que conquista qualquer um desde a abertura – tem a tradição de “Avalon Or Someone Very Similar”, tem “By Two’s” e “When It's Dark”, que, com sua melancolia linda de chorar, caberiam tranquilamente no “... And Then Nothing Turned Itself Inside-Out”, um dos albums da década, tem o rockão de “Nothing To Hide”, tem o clima Motown de “Periodically Triple Or Double” e “If It’s True”.
Não fosse o suicídio comercial – também já previsível em se tratando de Yo La Tengo – da trinca final, com cerca de 37 minutos somados, esse álbum seria top 3 fácil.
Não que as músicas sejam ruins ou que isso tire o brilho do álbum, mas aí a coisa começa a depender do estado de espírito para ouvi-lo – o que não acontece com a sequencia das 9 primeiras músicas, perfeitas.
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07) Bill Calahan – “Sometimes I Wish We Were An Eagle”
Um ano após uma turnê no Brasil que deixou bastante saudades para quem teve a sorte de assiti-lo, o Bill Calahan – mais conhecido como “o cara do Smog” – vem com esse disco perfeito do começo ao fim.
Logo na primeira música, “Jim Cain”, ele já avisa que está “dark” de novo – e a gente só tem a ganhar com isso.
Encarrilhadas na seqüência, “Eid Ma Clack Shaw”, uma das melhores letras do ano e “The Wind And The Dove”, com o melhor refrão do ano, fazem um seqüência matadora.
E ainda tem todo o resto, culminando com a épica “Faith/Void”, de quase 10 minutos, pregando que é hora de colocar Deus de lado.
Um disco para matar saudade dos melhores momentos do Smog.
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06) Flaming Lips – “Embryonic”
Quando a gente acha que já viu de tudo em termos de loucura do Wayne Coyne nessa vida ele vem com esse novo álbum para nos surpreender.
O álbum é uma viagem tamanha que só se consegue “entendê-lo” por volta da quinta audição – por isso eu peço que vocês tenham paciência e insistência. Mas depois que a coisa vai, o bicho pega.
As informações e as referência são muitas. Viagens kraut como “Convinced Of The Hex”, rock progressivo (no bom sentido, se é que há bom sentido nisso) em “Evil” e “Powerless”, Mutantes em “Your Bats”, rock de arena setentista em “The Ego's Last Stand” e “Worm Mountain”, Beatles em “I Can Be A Frog” e diversas viagens que passariam muito bem por vinhetas.
Mas para quem gosta do velho e bom Flaming Lips, ele também está lá, em músicas como “The Sparrow Looks Up At The Machine”, “See The Leaves”, “Silver Trembling Hands” e “Watching The Planets”.
Um álbum que não duvida da nossa inteligência sem ser pedante. E, a cada estudo adicional, o vício nele aumenta.
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05) Atlas Sound – “Logos”/Deerhunter – “Rainwater Cassette Exchange”
Após fazer o melhor álbum do ano passado (“Microcastle”, do Deerhunter), o melhor e mais prolífico compositor da atualidade, Bradford Cox, mais uma vez volta aos holofotes, desta vez com um álbum cheio do Atlas Sound e um EP do Deerhunter.
O cara é tão foda que, no caso do Atlas Sound, ele teve a manha de convidar dois figurões (Panda Bear, artista solo e membro do Animal Collective, e Laetitia Sadier, vocalista do Stereolab) e brindá-los brilhantemente com músicas que remetem às suas próprias carreiras sem isso parecer nem bajulação, nem cópia, nem insulto – as geniais “Walkabout” – uma das músicas do ano, sem dúvidas – e “Quick Canal”.
Isso sem contar a beleza de “An Orchid”, “Criminals” – de chorar –, “Shelia” – que não tem como tirar da cabeça – a viagem de “Kid Climax”, o mantra pixiano de “Washington School” e o desfecho de ouro com a faixa título.
Um disco perfeito de um compositor perfeito.
Já no Deerhunter, ele simplesmente manteve o nível do “Microcastle”, um dos melhores álbuns dos últimos tempos. Cinco músicas perfeitas em 15 minutos de tirar o fôlego.
Logo devemos ter mais desse gênio, felizmente.
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04) Grizzly Bear – “Veckatimest”
Melodicamente, o Grizzly Bear fez o álbum mais denso do ano.
Dá para ver a complexidade dos arranjos e a preocupação com a perfeição em cada acorde.
E tem músicas simplesmente perfeitas como “Two Weeks”, “Cheerleader”, “Dory”, “Ready, Able” – outra das músicas do ano – e “While You Wait for the Others”. Tão perfeitas que não tem nem muito o que ficar falando nelas – simplesmente pegue alguns minutos para degustá-las, ciente de que vai se viciar imediatamente.
Seria o álbum do ano, não fosse o fato de exatamente aquela complexidade que o eleva à quase-perfeição fica somente no “quase” porque, a longo prazo, acaba cansando um pouco.
Mas, se administrado em doses homeopáticas, é tratamento para o resto da vida.
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03) Dirty Projectors – “Bitte Orca”
E não é que todas aquelas “quebradas” de ritmos, aquele caldeirão de referências, aquelas vozes a princípios “perdidas” no meio dos demais instrumentos – que depois se percebe serem apenas mais um instrumento – funcionam perfeitamente em conjunto???
Para os que – como eu – sempre gostaram de experimentalismo, mas somente se dirigidos a algum fim pop – e desde meus 12 anos de idade eu venero o Sonic Youth por isso – no começo pode ser um pouco difícil gostar dessa bagunça toda. Não sei se o meu cérebro tem algum problema organizacional, mas é assim que funcionou comigo.
Mas logo depois você consegue absorver pérolas como a tribal “Cannibal Resource”, a “kinkiana” “Temecula Sunrise”, a melhor faixa do álbum “”, alternando momentos de calmaria e guitarrada, “The Bride”, as referência de Radiohead-fase-Kid-A em “Useful Chamber” (com refrão totalmente bizarro) e de Talking Heads em “No Intention”.
Tem o pop também – perfeito em “Stillness Is The Move”, que, conforme eu li por aí, se tivesse sido gravado pela Beyoncé seria o single mais vendido da história e “torto” em “Two Doves”, que lembra a melhor fase da Nico.
O lance é que parece que quanto mais se ouve esse álbum menos você conseguiu absorver – coisa típica de álbuns complexos, que demandam um delicioso estudo para serem compreendidos, se é que serão completamente.
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02) Animal Collective – “Merriweather Post Pavilion”/“Fall Be Kind”
Não bastasse logo em janeiro o Animal Collective lançar um álbum que já foi considerado desde já o melhor do ano, ainda fechou o ano com o brilhante EP “Fall Be Kind”.
Acho que nessa altura do campeonato já se esgotou tudo o que haveria para se falar sobre o “Merriweather Post Pavilion”, né?
Estão lá várias das canções do ano, como o psicodelismo ensolarado de “My Girls”, a tensão de “Summertime Clothes”, provavelmente A MELHOR música do ano, que tem as manhas de dar a sensação de calor não só na letra, mas no climão, o caldeirão de informações de “Lion In A Coma” e a alegria de “Brothesport”.
E no EP de fim de ano estão as complexas e perfeitas “Graze” e “What Would I Want? Sky”, que poderiam, cada uma delas, se desmembrar em 2 ou 3 músicas, mas não, eles ousadamente preferem juntar tudo numa só.
Fato é que o Animal Collective é inclassificável. Consigo ver psicodelia, consigo ver música eletrônica, consigo ver soul music. Mas todas essas referências do passado estão longe de classificá-lo.
Talvez por isso eles são hoje a banda que mais aponta para o futuro – e, consequentemente, a banda mais influente, como há tempos não se via.
DOWNLOAD VIA DEPOSIT FILES (Merriweather Post Pavilion)
DOWNLOAD VIA MEDIAFIRE (Fall Be Kind)
01) The xx – “The xx”
Se eu estou reconhecendo que o Animal Collective é a banda mais importante do ano e lançou o disco mais importante do ano, como o primeiro lugar não é deles.
Bem, como eu sempre disse, eu gosto mesmo é de música pop. Não interessa se ela é influente ou não – até porque a questão da influência leva um tempo para ser sentida. Com certeza no futuro eu olharei para trás e não acreditarei que fiz essa inversão entre o primeiro e o segundo lugares, mas é assim que eu me sinto agora – e seria traição escrever contrariamente aos meus sentimentos neste momento.
Para tomar essa decisão, comparei essa situação com a questão de qual é o melhor dos discos dos Beatles – para mim, sem dúvidas é o “Revolver”, mas consigo ver que a influência do “Sgt. Peppers” para a história da arte é maior. Mas em quem eu votaria numa eleição? No “Revolver”, oras. Por isso o primeiro lugar é do The xx.
Foi o disco mais viciante do ano – talvez exatamente pelo apelo mais pop. Seqüências como “Intro”, “VCR”, “Crystalized”, “Islands” e “Heart Skipped A Beat” e, ainda, “Besic Space”, “Infinity” e “Heart Skipped A Beat” não tem como não render um prêmio de disco do ano.
Parece “banda-armação”? Sim. O som “Hot Chip on dope” é manjado? Sim.
Mas tudo isso, até quando durar, é delicioso.
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ESCRITO POR CASSIUS MATHEUS DEVAZZIO